ATA DA QÜINQUAGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 11-12-2002.

 


Aos onze dias do mês de dezembro do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e cinqüenta e dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os cento e trinta anos de fundação da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, nos termos do Requerimento n° 178/02 (Processo nº 3563/02), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o Vereador José Fortunati, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Margarete Moraes, Secretária Municipal de Cultura e representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Nilo Feijó, Presidente da Sociedade Satélite Prontidão; o jornalista Benigno Rocha, representante da Associação Riograndense de Imprensa – ARI; os Senhores Sérgio Luiz Fonseca e José Francisco Dias dos Santos, respectivamente Presidente e Vice-Presidente da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora; o ex-Vereador Wilton Araújo, Presidente do Conselho da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora; o Vereador Reginaldo Pujol, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Também, foram registradas as presenças da Senhora Sabrina Sandin, Rainha da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, e Princesas dessa Sociedade. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Dr. Goulart, em nome da Bancada do PDT, teceu considerações acerca da fundação e das atividades desenvolvidas pela Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora ao longo de sua história, especialmente na prestação de assistência a escravos alforriados, durante o período em que o Brasil adotou uma política econômica baseada no sistema escravagista de produção. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e PPS, destacou a relevância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre aos cento e trinta anos de existência da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, externando sua alegria em participar da presente solenidade e enaltecendo a perseverança de seus associados em buscar atingir os fins colimados por essa Sociedade. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada do PMDB, saudou a direção e os associados da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora pelo transcurso do centésimo trigésimo aniversário dessa entidade, comentando dados acerca de seu caráter beneficente e libertário, visto que seus integrantes lutaram ativamente pela abolição da escravatura no País e pela inserção dos negros na sociedade brasileira. O Vereador Raul Carrion, em  nome  da  Bancada  do PC do B, discorreu sobre aspectos atinentes à fundação e à evolução da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, mencionando ser essa entidade um centro de resistência cultural contra a escravidão e todo e qualquer tipo de discriminação contra os negros e os afrodescendentes e parabenizando seus integrantes pelos cento e trinta anos de existência dessa Sociedade. O Vereador Estilac Xavier, em nome da Bancada do PT, prestou sua homenagem à Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora pela passagem do seu centésimo trigésimo aniversário, abordando dados alusivos ao trabalho desenvolvido pela entidade ao longo de sua existência e externando seu reconhecimento à relevância dos serviços prestados por essa Sociedade à população afrodescendente de Porto Alegre. O Vereador Ervino Besson manifestou-se sobre episódios da vida pessoal de Sua Excelência, relativos à sua presença em atividades promovidas pela Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora, cumprimentando a direção e os associados da entidade pelos cento e trinta anos de fundação e exaltando a luta diariamente empreendida pela mesma, no sentido de defender os direitos civis de seus associados. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Sérgio Luiz Fonseca, que destacou a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre aos cento e trinta anos de existência da Sociedade Beneficente e Cultural Floresta Aurora. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador José Fortunati e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Reginaldo Pujol, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores 1° Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Sociedade Floresta Aurora pela passagem dos seus 130 anos. Compõem a Mesa o Sr. Sérgio Luiz Fonseca, Presidente da Sociedade Floresta Aurora; o Sr. Desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, representando o Tribunal de Justiça do Estado; a Sr.ª Margarete Moraes, Secretária Municipal da Cultura, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, João Verle; o Sr. Nilo Feijó, Presidente da Sociedade Satélite Prontidão; o Sr. Benigno Rocha, representante da ARI; o Sr. Wilton Araújo, ex-Vereador desta Casa, Presidente do Conselho da Sociedade Floresta Aurora.

Damos também as nossas boas-vindas à Sr.ª Sabrina Sandin, rainha da Sociedade Floresta Aurora e a sua corte. Sejam bem-vindas; sem dúvida nenhuma embelezam por demais esta Sessão Solene.

Damos também as nossas boas-vindas a todos os que, neste momento, nos dão a honra das suas presenças.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Dr. Goulart está com a palavra em nome do PDT.

 

O SR. DR. GOULART: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Há muitos anos, quando voltei a morar em Porto Alegre, e aí já me dando conta do mundo ao meu redor, porque daqui saí muito pequeno por trabalho do meu querido pai, escutei o nome “Sociedade Floresta Aurora”. Lá no meu inconsciente, que prenunciava alguns momentos de poesia, eu imaginei: floresta aurora, aurora, floresta, será que é uma ninfa, uma fada do bosque, uma fada do mato, uma fada das florestas? Mas Jorge Carioca, que vinha comigo do Rio de Janeiro, grande poeta que exerceu a maior parte do tempo da sua poesia nesta Cidade, me corrigia: “Não, meu querido amigo, a Sociedade Floresta Aurora é uma sociedade muito antiga, que foi fundada no último dia de um ano do século passado, e associava negros forros, negros que tinham conseguido de alguma maneira a sua alforria, e se preocupavam, esses homens, com os outros homens, seus pares, e faziam uma sociedade para cuidar dos enterros dos negros que morriam ali, naquela época. E, mais ainda, para cuidar das famílias, que ficavam, desses homens.” Já me encantava ouvir falar disso. Por isso, eu, aconselhado por um irmão que o Grande Arquiteto do Universo colocou no meu caminho, meu companheiro de Loja, Irmão Chico, sugeri à Mesa que fizesse esta homenagem aos 130 anos da Floresta Aurora. E mais: sugerimos a companhia do nosso colega Ver. Antonio Hohlfeldt, agora Vice-Governador eleito do Estado, porque esperávamos que ele pudesse expressar-se a respeito do trabalho, da tese do Presidente Fernando Henrique, que fala sobre os negros do Sul, sobre as charqueadas, que fala da dominação que, naquela época, o negro sofria nas charqueadas. Faz até uma conotação, por um viés, ao grande clássico de Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala. Esse era o motivo da nossa reunião. E os negros tiveram, aqui nesta Casa, a sua primeira manifestação de liberdade, porque foi aqui na Câmara Municipal de Porto Alegre que surgiu a primeira lei de libertação de escravos de todo o Brasil, muitos antes da Lei Áurea. Isso é histórico. É um motivo de satisfação para os Vereadores? É um motivo de satisfação, mas na História permanece um quê. Que influências teriam surgido para que essa Lei aparecesse? Há alguns veios do pensamento e de estudos que dizem que era necessário, naquela época, desfazer-se da mão-de-obra escrava que estava começando a ficar muito cara nestas paragens.

Então, sempre lembrando essa luta do negro e lembrando a Floresta Aurora, lembramos a história do negro contra algum tipo de opressão. (Canta.): “Mas nunca perde a liberdade quem sonha e faz do sonho a sua verdade.” Essa foi uma música que, ainda há pouco, Nilo Feijó caminhava na passarela do samba, dizendo que nunca perde a liberdade quem sonha e faz do sonho a sua verdade.

Por que o meu encanto tão grande, sendo de pele branca, com os negros ao meu redor, com os meus amigos? Por uma influência muito grande de Jorge Carioca, o grande poeta Jorge Carioca, grande amigo, que me mostrou os vieses e os encantos desta vida, por meio de uma cultura colorida como é a cultura da negritude; por meio de uma religião colorida, uma religião que não proíbe nada, uma religião que é a mais realista de todo o mundo porque mostra, em seus orixás, nas suas divindades, o verdadeiro arquétipo do comportamento humano. Cada um representa: um, a volúpia; o outro, a guerra; o outro, a ambição; o outro, a ciência; o outro, a bondade; o outro, a sabedoria. Isso encantava a minha vida de pré-universitário e, depois, firmava, na minha Universidade, o meu pensamento.

Convivi muito tempo com Jorge Carioca, que me levou, uma vez, a uma reunião dançante na Floresta Aurora. Procurei, no livro que aqui está - e citaram vários lugares da Floresta Aurora -, pois parecia-me que eu tinha ido a uma sede perto da Praia de Belas. Eu não encontrei, Nilo Feijó; encontrei no Cristal, que era o lugar mais perto. Parecia isso, lá nos sem-fins da minha memória.

Jorge Carioca começou a ter os seus filhos com Joana D’Arc, e eu comecei a ter os meus filhos. Eles foram-se criando juntos, sem nunca se darem conta da diferença das nossas peles. Isso foi muito importante.

Jorge Carioca me falou da negra Anastácia, que era uma espécie de resistência e de rebeldia dentro da mitologia negra do Brasil, de uma mulher que, verdadeiramente, existiu. E ele começou a me mostrar os primeiros momentos revolucionários de Zumbi do Palmares. E, aí, meus queridos, fica a lembrança do final de uma música que pudemos compor: (Canta.) “Por isso, negros e brancos deste mundo, uni vossos cantares, pois não demora um novo Palmares vai surgir...”. E, aí, então será a verdadeira liberdade: Viva Zumbi! Viva Zumbi! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em nome do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Saúdo especialmente o Ex.mo Sr. Desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, que, neste ato, representa o Tribunal de Justiça do Estado e que, para mim, representa as minhas vinculações com a Câmara Municipal de São Leopoldo, onde, por largo tempo, foi um destacado Vereador, meu companheiro de luta na União dos Vereadores do Estado do Rio Grande do Sul. É um prazer muito grande para a Casa e muito especial para mim tê-lo conosco nesta noite, Dr. Sejalmo, sempre. O nosso ex-colega será sempre o ex-Vereador, mais do que o Desembargador.

O mês de dezembro, o Desembargador Sejalmo sabe disso muito bem, caracteriza um período intenso de atividades nos parlamentos de todos os quadrantes deste País. A proximidade do término do ano legislativo faz com que as coisas aconteçam em grande quantidade e em grande profusão, eis que elas são represadas durante o ano e, ao final, deságuam numa torrente de obstáculos que precisam ser superados. Certamente isso explica as razões pelas quais nós não estamos dando a esta homenagem à Floresta Aurora a dimensão que ela mereceria receber pelos 130 anos de atividade. Não é para justificar, mas apenas para esclarecer aos seus dirigentes, que, durante o dia de hoje, desde de manhã, nós tivemos inúmeras atividades, as quais foram concluídas quinze minutos antes do início desta Sessão, com a votação de várias matérias que necessariamente precisavam ser enfrentadas ainda durante o ano Legislativo.

Gostaríamos, evidentemente, de ter preparado um pronunciamento muito mais ajustado a este acontecimento do que esta nossa manifestação, que nasce ao sabor do improviso, tendo em vista a indeclinável honra que temos de nos manifestar nesta ocasião. O próprio Ver. Dr. Goulart, com quem dialogávamos ao longo da Sessão de hoje, buscava informações, esclarecimentos, a respeito da história da Sociedade Floresta Aurora, preocupado em identificar um lugar onde ele compareceu a uma reunião dançante há alguns anos.

Eu não sei exatamente em que momento estabeleci vínculos com essa entidade tão representativa. Até porque, por circunstância, eu sei bem de onde surgiram as minhas identificações com o Satélite Prontidão, eis que, marcadamente, em decorrência de algumas relações de ordem pessoal, assemelhadas àquela, Humberto, que tu tinhas com o nosso pranteado amigo Jorge Carioca. Mas, nascendo onde nasceram essas vinculações, sobram-me razões para, em nome do Partido da Frente Liberal, estarmos presentes neste ato, aplaudirmos a iniciativa da Mesa Diretora, sob a inspiração do Ver. Dr. Goulart, e sublinhamos, ainda, que sem aquela cor que necessariamente teria de haver em algumas circunstâncias que envolvem essa entidade.

Lembra o Ver. Dr. Goulart que esta Casa foi pioneira na luta pela emancipação política, pela libertação dos negros neste País. Certamente que a história marca, de forma muito forte, o pensamento liberal em todo esse movimento. Se, historicamente, esse pensamento que se renova sustentava essa posição, com muito mais razão nós temos de afirmá-lo nesta hora.

Por isso, transfiro aos dirigentes do Floresta Aurora, aos associados, aos funcionários, às suas rainhas, a todos que aqui nos dão a honra das suas presenças, a nossa mais sincera homenagem e a convicção de que esses cento e trinta anos de história e de tradição não haverão de ficar indeléveis. É o marco de um continuar, de um prosseguir, de um reafirmar constante daqueles que buscam afirmar as suas qualidades – que não são poucas – ao longo do tempo, pela fé, pela constância e pela perseverança. E nós vemos na Sociedade Floresta Aurora um grande exemplo a ser não só saudado, mas reverenciado como um exemplo a ser apresentado a toda a sociedade e a toda a comunidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra em nome do PMDB.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, aqui, neste breve espaço de tempo, dizer que em nome do nosso Partido, o PMDB, e em meu nome e em nome do Ver. Luiz Fernando Záchia, nós não poderíamos faltar a esta justa homenagem da Mesa Diretora, porque a Sociedade Floresta Aurora é uma das sociedades mais antigas do Rio Grande do Sul, para não dizer a mais antiga, um século e trinta anos – são cento e trinta anos de luta. Portanto, é uma história.

Vejam que ela foi fundada dezesseis anos antes da proclamação da Abolição da Escravatura – 1772. Ela foi fundada por negros já livres, ou seja, que já haviam recebido a sua Carta de Alforria. Levo a interpretação de que eles podem ter vindo da sua libertação, inclusive da Guerra Farroupilha, que foi de 1835 a 1845, portanto, trinta anos - posso levar o raciocínio para essa direção.

Inicialmente, essa sociedade se situava no bairro Floresta, na Av. Cristóvão Colombo perto da Rua Barros Cassal, com a finalidade eminentemente beneficente, para ajudar em todos os encaminhamentos da família negra. É evidente que mesmo sendo, inicialmente, beneficente, ela desempenhou um elevadíssimo papel para que outros negros fossem libertados. Mudando-se, mais tarde, para a Rua José do Patrocínio, foi para a Rua Curupaiti e hoje está na Pedra Redonda.

Entre as suas gestões, gostaria, dentre as tantas figuras magníficas que passaram por lá, de saudar o Moisés, na sua gestão tão destacada por todos aqueles que militam na Sociedade Floresta Aurora; pela sua condução, pela sua recuperação, pela maneira como reconduziu nesses últimos tempos essa entidade.

Mas também queria dizer que a luta da Sociedade Floresta Aurora, nesses cento e trinta anos, não tem sido apenas para afirmar que os negros são negros, mas para afirmar que os negros de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil pertencem a uma raça, que é a raça humana - que, lamentavelmente, foi excluída, espoliada ao longo da sua história. Especialmente no nosso Rio Grande do Sul, de uma população de descendência européia muito fechada, onde a miscigenação foi mais demorada, diferentemente de Estados como a Bahia e tantos outros, com traços muito diferenciados no Rio Grande do Sul. Portanto, quando esta Casa, neste final de ano, propõe esta homenagem, nós queremos nos somar a esse ato da Mesa para trazer mais do que o nossos abraço, mais do que a nossa solidariedade, mas dizer que esta é uma luta de todos nós. Queremos uma sociedade justa, igualitária, fraterna e da qual todos nós possamos fazer parte com muita justiça.

Portanto, um abraço, um carinho muito especial a todos. Parabéns à Mesa Diretora e a todos aqueles que estão aqui e àqueles que não estão aqui representando, como o Desembargador, muito bem saudado pelo eminente Ver. Reginaldo Pujol, grande Vereador da nossa querida São Leopoldo, cidade magnífica, onde por muitos anos diariamente lá estava quando cursava a Universidade do Vale do Rio dos Sinos. A nossa saudação ao Ver. Wilton Araújo, que assumirá nesta Casa a partir do dia 1.º de fevereiro. Saudação a todos. É uma alegria muito grande estar aqui. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Raul Carrion está com a palavra em nome do PC do B.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em 1872, mais precisamente no dia 31 de dezembro, em pleno fragor da luta abolicionista, um grupo de negros forros fundou em Porto Alegre, dezesseis anos antes da abolição, a Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora, no encontro das antigas ruas Floresta, atual Av. Cristóvão Colombo, e Aurora, atual Rua Barros Cassal, essa sociedade de caráter, inicialmente, beneficente para ajudar os funerais, a assistência aos familiares do falecido. Logo, essa Sociedade pioneira tornou-se um centro de resistência cultural de luta pelo fim da escravidão, contra todo o tipo de discriminação aos negros e afrodescendentes.

Causam admiração hoje esses homens e mulheres que no ano de 1872, enfrentando todas as dificuldades, tiveram essa iniciativa que perdura há 130 anos. Com sua sede na Rua Coronel Marcos, depois de haver passado pela antiga Rua Concórdia, atual Rua José do Patrocínio, e pela Rua Curupaiti, navegando por mares tormentosos. Recordo as grandes dificuldades por que passou a Floresta Aurora, só superadas sob a direção firme, competente, do amigo Moisés Santana Vieira.

Hoje, essa importante sociedade, sob a direção de Sérgio Fonseca, a Vice-Presidência do Francisco, desenvolve um importante trabalho cultural, social e político. Destaco Projeto “ERÊ” para a prática de esportes para crianças de seis a quatorze anos, o apoio a creches e comunidades carentes, as campanhas beneficentes de doação de alimentos, mas sobretudo a luta permanente contra a discriminação e exclusão, pelo resgate da enorme contribuição cultural, econômica e histórica da comunidade negra para a nossa Cidade, para o nosso Estado, para o nosso País. Comunidade negra historicamente excluída da riqueza deste País.

Não vou gastar tempo com estatísticas aqui, porque são sobejamente conhecidas, apesar de ser a etnia que mais contribuiu para a riqueza deste País desde o tempo colonial, tempo onde sequer se pode imaginar o Brasil sem a contribuição dos negros e tampouco podemos imaginar sequer o brasileiro sem a grande contribuição cultural na forma de ser, na psicologia que os negros deram a nossa nacionalidade. Comunidade que, não canso de repetir, foi excluída da propriedade neste País pela Lei de Terras de 1850, que depois foi excluída do direito ao trabalho pela forma com que se deu a abolição, onde o negro, que durante quatro séculos sustentou a economia do País, foi considerado inapto para o trabalho livre, e que continua excluída, em grande parte, de uma plena cidadania até os dias de hoje. Por isso mesmo é muito grande a dívida do Brasil hegemônico, rico, branco, machista, com o povo negro deste País.

Por isso, a homenagem que fazemos hoje à Sociedade Floresta Aurora é uma homenagem, evidentemente, a essa Sociedade, mas é uma forma também de homenagearmos toda a comunidade negra que até hoje espera ainda por imensas reparações, que tem figuras históricas como  Zumbi dos Palmares, que tem a saga dos soldados negros na Guerra do Paraguai, que tem a contribuição ignorada por tantos dos lanceiros negros na Revolução Farroupilha, que tem a luta do Almirante Negro João Cândido, gaúcho de Encruzilhada, resgatando a cidadania dos negros em 1910 - vinte e dois anos depois da Abolição da Escravatura, os negros ainda eram açoitados, e os brancos pobres também nos navios da Marinha -, que tem Pageú, o Chefe guerrilheiro em Canudos; que tem o grande Osvaldão, Comandante da Guerrilha do Araguaia na resistência à ditadura militar. Povo, portanto, que tem uma contribuição, não só cultural, que muitas vezes é tão cantada, mas tem uma contribuição cultural, econômica, política, social e histórica que ainda espera o seu resgate, e a Câmara espera ter, com o ato de hoje, com uma pequena gota, contribuído para o resgate histórico da nossa comunidade negra.

Longa vida à Sociedade Floresta Aurora, boa luta à Sociedade Floresta Aurora. Muito obrigado em nome da Bancada do Partido Comunista do Brasil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Estilac Xavier está com a palavra em nome do PT.

 

O SR. ESTILAC XAVIER: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É uma extrema satisfação, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, vir aqui me pronunciar nesta tribuna em homenagem à Sociedade Floresta Aurora. Vejo vários amigos e companheiros aqui, que não vou nominá-los para evitar que me esqueça de algum, e o tempo corre marcado ali pelo nosso Presidente.

A história da Sociedade Floresta Aurora foi aqui colocada de forma brilhante e poética pelo nosso Ver. Dr. Goulart, depois, com a precisão do Ver. Raul Carrion. Eu me inscrevi em nome da Bancada, porque achei que era importante a iniciativa da Mesa Diretora, a qual cumprimento pelo fato de ter registrado nesta solenidade os 130 anos da Sociedade.

Eu conheço a Sociedade Aurora não com os detalhes que aqui foram colocados e que ilustraram os Vereadores que me antecederam. Mas eu cheguei à Sociedade Aurora através de dois diletos amigos, Yuri Santana e Marisa Fortunato. Duas pessoas com quem eu privo há muitos anos na minha atividade política, partidária e que num domingo me disseram: “Vamos lá na sociedade!”, e eu comecei a adentrar na sociedade. Fiz mais que isto, Presidente José Fortunati, eu hoje sou sócio da Sociedade Floresta Aurora, contribuinte, não sei se estou com o carnê em dia, mas sou contribuinte, então, já aviso o nosso Presidente que por favor faça chegar à Tesouraria o meu alerta. E faço e fiz isso porque achei que era importante contribuir de alguma forma com a minha participação nessa história que foi aqui de forma brilhante colocada, e porque eu sou de uma natureza pessoal de que não vejo distinção nas pessoas e também me orgulho muito de nunca conseguir distinguir nas pessoas diferenças que não sejam aquelas das opiniões que professamos. E, como prezo muito a diferença, e acho que a diferença nos dá a polifonia da vida, nos dá o elemento de liberdade, aliás, mais do que isso, que nos faz extremamente humanos, porque se fôssemos todos iguais, motivados pelas mesmas coisas, perderíamos aquilo que nos singulariza enquanto indivíduos, que somos únicos, de qualquer raça, de qualquer religião, de qualquer credo, com as nossas virtudes e os nossos defeitos e que nos torna, por isso, distintos de qualquer elemento que tenha sobre a face da Terra. Essa diferença nos humaniza e, ao verificar essa diferença e cultivá-la, estamos, de fato, exercitando aquilo que, para mim, é o maior bem que tem nas pessoas, a relação pacífica e do reconhecimento, de reconhecer o outro como outro, com os mesmos direitos. Isso eu acho, Sr. Presidente, e, estimulado por esta idéia, eu vim a esta tribuna em nome da minha Bancada para registrar a importância histórico-cultural da Sociedade Floresta Aurora e o reconhecimento que todos temos, como Legislativo local, ao fazermos este ato solene para dizer que nada é mais humano do que a preservação das diferenças, sejam elas quais forem, respeitando-as, cultivando-as para que a humanidade seja a soma dessas diferenças na construção do belo, do bom e do justo. Desta forma, tenho absoluta convicção de que a Sociedade Aurora se insere num processo de afirmação humana e a cidade de Porto Alegre homenageia a Sociedade da qual sou sócio, portanto, posso dizer também a “minha Sociedade”, porque sabe do valor que tem para a grandeza desta nossa querida Porto Alegre. Muito obrigado. Vida longa à Sociedade Aurora nos seus 130 anos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Ervino Besson está com a palavra.

 

O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Primeiramente quero, aqui, com muito carinho, agradecer ao Presidente desta Casa, Ver. José Fortunati, que me concedeu o tempo para que pudesse, em poucos minutos, relatar um fato da história da minha infância e da minha vida: o que representou um negro na família.

A maioria dos senhores sabe que eu sou oriundo do interior e a mão direita do meu falecido pai e da minha falecida mãe era um negro. Um negro! Ele cuidava de tudo! Seu nome era Jovino. Na infância nós tivemos problemas muito sérios de doença com a mãe, pois ela faleceu jovem, com apenas trinta e seis anos de idade, e o pai vivia viajando para Porto Alegre, ficando vários dias aqui, e quem cuidava de tudo era um negro, meu caro Ver. Dr. Goulart. Um negro tomava conta de tudo da família. Eu fiz questão de falar para vocês pelo carinho e a gratidão que eu tenho com a raça negra, pela história, pelo que representou aquele negro na minha família, não só na minha família, mas em todo aquele grupo, naquela convivência junto com o meu avô e minha avó bem velhinhos.

Ele viveu o resto da sua vida junto com a gente. Era mais um filho da família.

Nós mudamos em 1961 para Porto Alegre, fazia pouco tempo que ele havia falecido. Para surpresa deste Vereador, eu fui trabalhar no Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre, na Cidade de Deus, e um dia havia uma reunião dançante. No mesmo pavilhão, numa porta entravam os brancos e na outra os negros. Foi uma surpresa para mim, meu caro Presidente. E tinha o Flodoaldo Damasceno, um líder daquela comunidade, que está vivo ainda, belo, com a sua esposa, que faz um excelente trabalho junto àquela comunidade; e aquilo para mim foi um choque.

Naquele mesmo dia eu falei: “Mas, Flodoaldo, o que está acontecendo?” Mas foi a primeira e a última que nós participamos ali, pois nós acabamos com aquilo. Mas era um problema racial, que coisa! Mas o nosso convívio, depois, com aquela comunidade foi tão profundo, gente, e depois eu convivi muito com a Floresta Aurora.

O Deputado Carlos Santos, que Deus o tenha lá no céu... Eu morava na José Bonifácio e o Deputado Carlos Santos morava no Bom Fim e ele ficou sabendo desse episódio que houve lá e tivemos um convívio muito fraterno, muito familiar, muito amigo, e, por várias vezes - eu um gurizão, naquela época -, tive a oportunidade de freqüentar o Floresta Aurora.

Portanto, quero, aqui, com muito carinho, com um carinho muito especial, do fundo da minha alma, desejar ao Clube Floresta Aurora, pelos seus cento e trinta anos de história e de luta, muita paz. Que cada um de vocês tenha um brilhante Natal, com muita saúde e um Ano-Novo repleto de muitas e muitas felicidades, e vida longa para cada um de vocês. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Com muita alegria concedemos a palavra ao Sr. Presidente da Sociedade Floresta Aurora, Sr. Sérgio Luiz Fonseca.

 

O SR. SÉRGIO LUIZ FONSECA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero colocar o seguinte: em primeiro lugar eu quero agradecer ao Presidente desta Casa pela homenagem aos 130 anos da Floresta Aurora, e dizer também que o histórico da Sociedade Floresta Aurora foi contado aqui de diversas maneiras, com riquezas de detalhes, e eu não teria mais o que colocar. O histórico ficou bem representado, com as várias formas que foram apresentadas aqui. Eu tenho mais é que agradecer a minha Diretoria por esses dois anos e meio, pois eu estou em início de gestão novamente, agradecer pelo trabalho que tem feito comigo, e também quero passar essa homenagem para os ex-Presidentes da Sociedade Floresta Aurora, que se não de uma forma direta, ou indiretamente, eles contribuíram muito para que a Sociedade tivesse este momento que nós estamos passando, ou seja, os 130 anos, e um momento também de resistência, porque nós estamos dia-a-dia apagando fogo e batalhando pelo nosso espaço.

Então, mais uma vez, o que eu tenho a fazer é agradecer novamente pela homenagem, e que, para o próximo ano e para os anos seguintes, consigamos conduzir dessa forma, com consciência, com muito trabalho, e que a Sociedade Floresta Aurora consiga permanecer no lugar que merece, que é um lugar de representatividade, dentro das outras sociedades também ela tem que permanecer, e não como estava sendo naqueles momentos difíceis.

Então para mim está sendo um momento muito importante, e eu quero agradecer a todos aqui presentes e a todas as autoridades e ao Presidente da Casa pela homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Neste momento convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Em nome da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, em nome dos trinta e três Vereadores, agradecemos a todos pela presença e damos por encerrada a presente Sessão Solene. Desejamos uma vida longa à Sociedade Floresta Aurora. Boa-noite!

 

(Encerra-se a Sessão às 20h45min.)

 

* * * * *